UM HOMEM CHAMADO EMAIL
Como tem sofrido, o pobre homem...
...Mas não lhe venham dizer que é por culpa dos pais ou do oficial do cartório, que não souberam definir a respeito do seu nome no ato do registro de nascimento do caríssimo. Isto, não! pois ele fica "p" da vida! Com razão: afinal, nasceu muito antes da era dos e-mails e, portanto, seu prenome deve ser pronunciado como é escrito: EMAIL!... (Para ficar claro a quem esteja revolvendo este episódio, soletre-se: E-M-A-I-L), e não como o faz essa gente colonizada, viciada em outro idioma, que lhe impinge uma aberração chamando-o "I-mêil", "Ê-mêil", "I-meio", "Ê-meio", de acordo com a fórmula e origem dos cursos de "ingrês" onde vem aprimorando seus conhecimentos linguísticos e pelos quais abandonou (por achar absolutamente desnecessário) o estudo do idioma pátrio, proliferando, nessa gente, inumeráveis autodidatas, que "aprendem" rápido e saem falando "ingrês" com a maior facilidade, de orelhada, só por ouvirem e (inteligentíssimos seres!) "captarem" as ondas da coqueluche colonizadora através de clips na televisão e na internet.
(...)
Por ter esse nome, o fato tem gerado grande barafunda na cabeça do coitado. Qualquer coisa, qualquer ato que dependa de cadastramento, o purgatório se instala:
"- Seu nome, por favor."
"- Email."
"- Sim, mas, primeiro, diga seu nome."
"- Email!"
("- Ainda fala errado, o infeliz!") - resmunga o interrogador. E insiste:
"- Já sei, o senhor já disse que tem e-mail; mas preciso que me dê seu nome!"
"- Email!... Email!!!..." - responde o homem, irritado.
O outro conclui estar diante dum legítimo desaparafusado;
("- Chi! Tá feia, a coisa! 'Tá bem, 'tá certo, depois eu anoto o e-mail dele").
E tenta abreviar o questionário, pois só assim (pensa) irá solucionar o problema do nome:
"- Por favor, senhor, preciso anotar os seus CPF e RG."
Sabendo que em seguida lhe serão pedidos endereço e comprovação de renda, Email antecipa-se e apresenta ao perguntador os mais recentes contracheques, contas de água, luz e telefone.
"- O senhor é prevenido, hem? Trouxe tudo direitinho!"
"- Já me acostumei à coisa" - responde Email.
Só então o outro constata, estupefato (o que muitos outros, frente aos quais nosso personagem tem-se apresentado em tantas ocasiões, e que também estupefatos constataram), que o seu prenome é, mesmo, Email - porque assim está grafado, em todos os documentos, sem tirar nem pôr!
...E o sobrenome? Bem, aí é que a coisa cai como uma gozação àqueles todos perguntadores que o atormentam: o sobrenome está grafado: Timbum Arroba Hipiurra Pontokon Massembeèrre...
(...)
...(E como jamais haverá acordo entre as partes envolvidas no embrulho , assim ficarão as coisas até o fim dos séculos.)
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Abr., 27, 2015