TENHO/TENHA ABSOLUTA CERTEZA: O TEMPO NÃO VOLTA...
... - pois é trem que passa sem parar; que, numa freada, no momento exato da passagem pela plataforma, reduz a marcha, dando oportunidade para alguém embarcar e seguir em frente. Se bobear, não mais o pegará; será t(r)empo perdido querer alcançá-lo mais adiante, porque não haverá próxima estação... Tudo aquilo que alguém poderia (e deveria) ter feito, e não fez; tudo o que não poderia (e não deveria) ter feito, e fez... - bye-bye, ciao-ciao, au revoir!!!... Já era!!!
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...Ainda agora ouvi a locutora dum noticiário televisivo perguntar, puxando a matéria: "- Por que as escolas-de-samba ficam de olho no relógio?" Ela, os telespectadores e a repórter de rua sabem; mas, aproximando-se do diretor da agremiação que ora ensaia na passarela, a reporter lhe faz a mesma pergunta. O homem (que também sabe) mostra o cronômetro. Isto, só, bastaria, como resposta do óbvio. Ali, a prova da obediência devida ao tempo: sem parar, sem direito a repetição, a escola terá que fazer sua apresentação de acordo com os minutos compactados na maquininha.
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Na vida, as ações boas e ruins ficam para trás em dois amontoados: um, empilhadinho, certinho, fácil de ser lembrado; outro, uma barafunda, da qual tentamos nos livrar e não conseguimos. Que fazer? Deletar a barafunda? Ora, tudo o que se deleta nesta era informatizada, é, segundo os entendidos, recuperável. Assim, também sempre haverá especialistas para recuperar páginas "esquecíveis" dos nossos "diários", tornando-as "lembráveis", ainda que sejam só casca de banana esquecida no lixinho da pia da cozinha, de onde exala quase imperceptível fedor, mas tendo a acentuá-lo, tornando-o desagradável, o irritante esvoaçar das mosquinhas.
...O mal-arranjado dos nossos antigamente continuará mal-arranjado para sempre, infinitamente.
Mas (oh, modernidades!) há um jeito: reciclar!
Imaginemos uma usina onde se acha enormíssima quantidade de entulho para reciclar - as nossas mazelinhas.
...Já que tal entulho é recuperável, reciclemos a barafunda, reciclemos os "mal-arranjados", lembrando-nos deles e não, simplesmente, jogando-os no lixinho da pia ou (pior) atirando-os pela janela do t(r)empo.
...É difícil? Pode ser. Mas não é absurdo.
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Relógios, relógios...
...Relógios são repetitivos. Dão-nos a ilusão de, a qualquer instante, podermos parar o comboio e nos aboletarmos numa cadeira da primeira classe. Entretanto, o que me dá, mesmo, certeza "material" da passagem do tempo são as réguas milimetradas.Tenho-as, junto a mim, colocadas ao lado (e não de lado - talvez até uma intuição, um lembrete que me cutuca e me faz refletir); três réguas, numa gaveta, bem à mão. Já as usei, muito, para riscar linhas retas, em horas e mais horas, madrugadas a dentro, esboçando quartos, salas, banheiros de casa sonhada...
(...)
Tento viver seguindo as linhas retas; ou, pelo menos, mantendo equilíbrio nos trilhos do trem. Ainda assim, sempre há quem me advirta: - Não é deste modo! Você está errado!
E é isto mesmo. Se não é assim, é assado: vou tentando corrigir o rumo; tropicando, porém, consciente da imperfeição.
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A quantidade de réguas não vem ao caso, pois, é suficiente uma só. Quando a observo, sou obrigado a refletir que cada milímetro representa um ano de vida. Não tendo pretensão de viver tantos anos (são trezentos milímetros), prendo sentido nos cem primeiros... E vejo que já cumpri tres quartas partes deles... É muito tempo vivido, mas já é pouco para ser ainda desfrutado, mesmo que eu chegue aos cem... É a realidade.
...Por isso, tenho absoluta certeza: o tempo não volta.
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Quando viajo não levo as réguas. Um pente de osso exerce as mesmas funções delas: são cinquenta e tres dentes que me penteiam, aliados aos cinquenta e dois interstícios. O penteado só não sai perfeito porque os redemoinhos não permitem. Somados, dentes e interstícios chegam a cento e cinco. Aí, então, sempre me é lembrado: a cada dente quebrado, desapareceria também a função de um interstício...
...Já pensou, por exemplo (e estou neste caso) o que seria alguém pentear-se com pente falto de trinta e sete dentes, dos originais cinquenta e três? - porque, se se perdem dentes perdem-se, também, interstícios...
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Se você dá como certa esta verdade, lembre-se - tenha absoluta certeza: o tempo não volta!
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Fev., 08, 2013