EU, HEIN!
Me lembro como se fosse hoje...
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Epa! Antes de começar, duas coisinhas. Primeira: "Me lembro como se fosse hoje" - é expressão velhinha pra daná, manjada pra chuchu... no entanto, é pórtico largo, ponto de partida para quem quer relatar "antigamentes". Segunda: dizem os mestres que não se deve usar o pronome oblíquo para iniciar um escrito. No tempo de estudante tentei argumentar com a professora: ..."- Há poucos dias li crônica de Raquel de Queiroz, que iniciava assim: 'Me contaram'..." E ela prontamente respondeu: "- Mas, Raquel de Queiroz é Raquel de Queiroz!..."
Portanto, não se deve, mas, se pode, porque existe a jurisprudência.
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Me lembro como se fosse hoje...
Não sei se num fim de semana ou num dia de férias, eu estava à toa na vida, brincando no quintal, quando vi uma saúva carregando enorme pedaço de folha.
Acostumado a ouvir histórias de todo jeito, a assistir filmes idem, peguei um graveto e comecei a fazer cruzes no chão, tentando interromper o trajeto da cabeçuda.
- Ela vai parar! Ela vai parar, quando eu fizer a décima terceira cruz! - eu dizia pra mim.
Continuei riscando...
... - quarta cruz, quinta -...
...A bichinha parava, desviava um pouco o rumo, e continuava em frente.
...Sétima... Oitava...
Ela era determinada; não perdia a rota.
- Ela vai parar na décima terceira!!!
...Décima...
...Décima segunda...
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Na décima terceira, ela parou!!!
...Parou, arriou a folha que carregava, fincou as duas pernas traseiras no chão, dobrou as pernas intermediárias para ficar "de mãos na cintura", ergueu as duas dianteiras para o alto, olhou-me fixamente e gritou, zangada:
- Escuta aqui, ô, menino! Você está vendo aquela gabirobeira lá no alto? Depois dela, a jaqueira? Depois, a mangueira? A goiabeira? O cafeeiro? Ah! A goiabeira e o cafeeiro você não consegue mais ver, não é? - estão mais distantes... Mas eu estou vindo de mais distante ainda. Estou vindo lá do fim do quintal, onde tem uns melõezinhos enrolados na cerca de arame farpado. É de lá que eu estou vindo; e estou cansada, ouviu? Can-sa-da!... Agora: se você é supersticioso, EU NÃO SOU!!! Então: vai me deixar sossegada, ou não???
(!!!)
Pegou de volta sua carga e continuou viagem.
...Passou pelo gato preto (- Olha, Romão, aquele garoto! Diz pra ele, diz!... - falou com o gato), passou por debaixo da escada encostada na parede da casa dos fundos...
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...Quando já estava na boca do formigueiro, e, virando-se para trás, me viu próximo dela, esbravejou:
- Eu hein! Você continua me seguindo?!...
... - mas logo se arrependeu:
-...Oh, me desculpe!... Não devia ser indelicada assim!... É que eu tenho muita coisa a fazer, ainda... Mas... quer entrar um instantinho? Aceita um chazinho de fungos?...
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Jan., 04, 2013